
-Vocês não foram mordidas? Não tiveram contato com nenhum sangue deles? – A respiração dele continuava acelerada, mas do que ele estava falando? Mordida? Sangue?
-Não... Nós não tivemos, mas por que esta perguntando isso?
Ele levanta e fica ainda encostado na parede limpando o suor que escorria pelo rosto, suas mãos estavam tremulas na hora que ele retiro as luvas para lavar as mãos e o rosto. De frente para a pia enorme e olhando diretamente para o espelho ele pergunta.
-Como conseguiram escapar? – Agora mergulhando o rosto nas mãos cheias d’água.
-Pelo duto de ar, nós fechamos à passagem a hora que saímos... Acho que ninguém nos seguiu – Eu acho.
-Bem sorte a de vocês, pois posso lhes dizer que vocês estariam como eles agora se não tivessem saído – Agora ele estava secando o rosto com um pedaço de toalha de papel e virando para nós.
-Como eles? – Pergunta Clara agora parada ao meu lado – Como assim?
-Mortos – A palavra entra em minha cabeça como uma facada no ouvido, e minha saliva descem como um bloco de gelo, quase que me sufocando – Todos aqueles funcionários, secretario, médicos, todos eles estão mortos.
-Como mortos? Todos estavam se atacando na medida em que eram mordidos, todos estavam agindo feito... – Por um minuto lembro quando estava a caminho para cá, no noticiário do radio do meu carro dizendo que hoje fazia três anos do incidente no RS, depois me lembro de ter encontrado uma fixa em minha sala sobre isso também, que na cidade as pessoas atacavam umas as outras sem razão e começaram um massacre.
Mas eu apenas li por cima, não achei que fosse importante, não é possível. Será que esta tudo acontecendo novamente? Como ocorreu naquela cidade? Mas se for assim as pessoas de fora não estão sabendo, se algum desses funcionários conseguir sair vai ser mais um caos.
-Trata-se de um Vírus, um vírus que estava sendo estudado pelos melhores cientistas do Brasil, é o mesmo vírus que destruiu a cidade do RS. E se essas pessoas que estão infectadas saírem deste prédio vamos encarar um pandemônio nesta ilha.
-Mas e ninguém está fazendo nada? Para impedir que isso aconteça? Meu Deus nós vamos morrer aqui dentro – Clara estava começando a entrar em desespero, mas não posso culpa – lá, só de imaginar o que pode acontecer agora se apenas sairmos desse banheiro.
-Quero sabe tudo o que você sabe – Pelo menos saber da situação em que estou é o essencial.
-Eu não sei muito, sou apenas um soldado seguindo ordens. Mas o que eu sei, é que eles atacam você pra morder, eles têm fome de carne fresca. Depois que você é mordido você fica infectado pelo vírus e fica como eles.
-Não tem cura? Alguma vacina ou algo do tipo? – Pergunto.
-Na minha cabeça, era isso que os cientistas estavam tentando desenvolver aqui, não tiveram muito sucesso. A ordem que nos foi dada era matar qualquer infectado, e se alguém tivesse sido mordido também.
-E quanto tempo demora pra virar um deles depois do contagio? – Pergunta Clara.
-É relativo, horas, minutos ou ate segundos dependendo do tamanho da infecção.
O problema estava ficando cada vez maior quando saia qualquer palavra da boca dele, a vontade de fazê-lo parar de falar era tentadora, mas precisávamos saber do Maximo possível. Ate ontem eu diria que isso era impossível de acontecer, mas quanto mais duvidamos mais cedo comprovamos que pode acontecer.
-E se pegarem agente agora? O que aconteceria? – Pergunto.
-Seriam levadas a uma sala para esterilização, onde todas as pessoas estão agora, se estiverem infectadas serão mortas - Ele parecia assustado tambem.
-E por que esta nos dizendo isso de boa vontade? – Clara retiro a pergunta que estava querendo sair da minha boca.
-Digamos que eu não concordo com algumas decisões do meu chefe, eu só quero agora é sair desse lugar – Diz ele colocando as luvas e se preparando para sair.
-Bom então estamos no mesmo time, meu nome é Morgana e essa aqui é a Clara – Estendo a mão para complementá-lo, era meio irônico fazer isso, mas educação em primeiro lugar, eu sempre aprendi.
-Me chamo Davi, prazer em conhecê-las – Ele finalmente esboça um pequeno sorriso no canto do lábio.
Vozes estavam ecoando pelo corredor, alguém estava vindo, e iria entrar aqui também. Se pegassem Davi ajudando agente, Deus sabe o que poderia acontecer com ele e com agente. Subir novamente pelo duto era impossível, pois estava muito alto e a pia estava longe para podermos alcançar.
-Tem alguém vindo – Diz Davi – Rápido entrem nos Box que eu vou levá-lo para fora.
Corro para dentro do primeiro Box que eu vejo e Clara foi para o ultimo novamente, deixando um Box separando agente. Finalmente a porta se abre e outro soldado entra e começa a conversar com Davi, sua voz era um tanto grossa e parecia muito cheio de si, ele não iria nos poupar se nos visse.
-E ai Davi dormiu no banheiro? Ta retocando a maquiagem é? – Ri ele.
-Eu estava me sentindo meio enjoado, por isso demorei, mas eu... Já to bem, vamos embora Leo – Davi estava tentando tira-lo para fora do banheiro para podermos sair, mas esse tal de Leo não estava ajudando.
-Que isso cara, to muito apertado... Preciso fazer o numero dois, você pode ir – Diz ele indo à direção dos Box.
-Não, Não eu espero você.
-O que? – Boa Davi, espera seu colega fazer o numero dois, você foi genial.
-Quer dize eu espero aqui fora – Disfarço bem ele.
-Beleza então, vou nesse primeiro aqui – Um frio no estomago veio quando vi aquela sombra enorme cobrindo a porta de vidro do Box que eu estava.
-Não espere – Davi se mete na frente e não o deixa entrar – Este aqui esta em manutenção entre no segundo aqui.
-Valeu.
Vejo a sombra dobrando ao lado e a segunda que era a de Davi indo em direção a porta. Agora era tudo questão de paciência e de agüentar o cheiro insuportável que iria ficar. Depois de uns dez minutos sentada com as duas pernas para cima, ele começa a fechar a calça e saindo do Box, sem ao menos puxar a descarga e lavar as mãos, sua sombra segue direto para a porta e desaparece.
-Meu Deus, me tira daqui – Dizia Clara.
-Calma já vamos sair – Digo quase num sussurro.
-Podem sair, esse corredor ta vazio, nos encontramos depois – Esse foi o Adeus de Davi.
Abro a porta lentamente e olho para os dois lados para ver se estava seguro, a ultima coisa que eu queria era me encontrar com um desses soldados malucos. Para a nossa sorte encontramos o mais gentil deles, e ainda nos alertou o que estava acontecendo aqui. Alem de termos que ter cuidado com as pessoas doentes, devemos andar nos escondendo dos soldados.
-Para onde vamos? – Pergunta Clara.
-Pra minha sala, é a mais perto... Vamos pegar o telefone e ligar para a policia e avisá-los – Isso se conseguirmos chegar ate lá.
Estávamos no segundo andar, precisaríamos chegar ate o terceiro onde minha sala estava. Espero que eles não estejam naquele corredor, é a única coisa que peço. Damos o primeiro passo para a esquerda indo em direção a primeira esquina, olhei lentamente contra a parede para ver se estava limpo, então prosseguimos. O elevador já estava a vista, espero que eles não tenham desativado ele, isso complicaria um pouco, se bem que se formos por elevador, não saberíamos se eles nos encontrariam na porta quando ela se abri-se.
-Morgana quando chegarmos lá preciso chegar ate minha mesa para pegar minhas coisas – Clara estava muito assustada, ela andava segurando meu braço fortemente, mas ainda bem que não estou sozinha.
-Fico maluca? Sua mesa fica ao lado da sala do diretor, deve estar cheia de soldados – Digo quase que num sussurro.
-Ta, mas, acho que se mostrar que não estamos doentes, eles nos deixam ir – Que ironia dela pensar assim.
-Clara eles não vão pegar leve só por isso, se fizermos isso sabe lá o que farão com agente.
Estávamos quase chegando ao elevador, mas somos surpreendidas por um homem de branco igual aquele que caiu no chão do refeitório. Ele parecia estar tonto, e caminhava com os pés ambos para dentro, com os braços molengos e se debatendo contra parede de cabeça baixa.
-Senhor? Você esta bem? – Pergunto, mas ele avançava ainda mais sem ao menos nos olhar.
-Morgana... – Clara estava me puxando para trás, mas eu tinha que saber se ele estava bem.
-Calma senhor, o senhor esta se sentindo bem, parece estar... – Sou interrompida quando ele levanta a cabeça a corre na nossa direção fazendo um gruído muito atormentador que me paralisa.
-Corre! – Grita Clara puxando meu braço.
Aquele homem que saiu de uma sala do corredor estava agora correndo desesperadamente atrás de nós, com uma velocidade que estava quase nos alcançando. Sua boca estava espumando e seus olhos amarelados com olheiras em torno deles, ele agiam exatamente como aquelas pessoas malucas do refeitório, mas pensei que todas estavam trancadas ou mortas lá.
-Por que ele ainda esta atrás da gente? – Pergunta Clara.
-Não sei... Temos que nos esconder sem chamar atenção dos soldados – Digo já avistando uma porta que estava fechando-se – Vem por aqui – Os gruídos dele estavam ficando mais intensos e ele ficava batendo os braços na parede com tanta raiva.
Entramos na porta e ficamos de costas para que ele não consegui-se abrir, mas a força dele era muito, para um simples homem magro contra duas mulheres que estavam segurando uma porta de alumínio. Vejo uma mesa para colocarmos para bloquear a porta, quando fui surpreendida com a mão dele quebrando o pequeno vidro que havia na superfície me segurando dos cabelos.
-Clara me ajuda – Grito.
-Solta ela – Grita ela.
-Não sai daí, se não ele vai consegui entrar – Digo me preparando para sair, mas meus cabelos estavam ainda em suas mãos e eu não tinha nada para fazê-lo soltar.
Com uma força surpreendente sinto minha cabeça latejar quando ele a bate contra a porta, mas me mantenho firme. Puxo com toda força minha cabeça arrancando um chumaço de cabelo que fica preso na mão dele desfazendo meu rabo de cavalo. Pego uma prancheta de anotações que havia em cima da mesa e bato com força varias vezes na mão dele para fazê-lo recuar, mas nada adiantava.
-Clara segura firme... – Corro para a mesa para bloquear, retiro as cadeiras e empurro contra a porta. As batidas continuaram, mas com aquela mesa ele não conseguiria abrir – Vem cá e me ajuda Clara.
Colocamos mais um sofá ao lado da mesa, agora sim nem com as batidas dele a porta movia-se. Ficamos uma do lado da outra esperando que ele fosse embora, mas ele ainda continuava ali tentando de tudo para entrar, tenho medo de o que pode acontecer se algum soldado vier agora.
-O que vamos fazer? Temos que sair daqui – Clara estava começando a entrar em estado de desespero.
-Eu estou pensando... – Sento em uma cadeira que eu havia derrubado para mover a mesa.
-Tem aquela outra porta, que da na sala ao lado Morgana – Diz Clara indo na direção dela – Droga... – Sua voz estava quase desaparecendo, estava a ponto de chorar – Ta trancada.
-Isso é animador... Com o barulho que fizemos não ira demorar ate algum desses soldados entrarem aqui – Era questão de tempo, e o pior era que não havia passagem de ar nesta sala, a única que tinha não passava nem meu braço.
A mesa balançava com as batidas do cara do lado de fora, mas por que ele não desiste? Se tivéssemos em nos andares mais baixos poderíamos baixar pelas sacadas. Sacadas? O único caminho que poderia nos tirar daqui. Der repente dois tiros ecoaram no corredor, espirrando sangue no vidro quebrado da porta, o cara havia sido baleado na cabeça pelos soldados que se aproximavam.
-Clara vem comigo – Puxo-a pelo braço em direção as janelas.
Abro o vidro lentamente para a esquerda, sentindo a brisa de verão batendo em meu rosto. Estávamos no segundo andar, não parecia tão alto, os portões estavam selados sem nenhum soldado guardando a entrada do prédio. Vejo que a janela da sala ao lado estava aberta, pois a cortina estava voando para fora, uma cortina branca com detalhes costurados amarelos.
-Você ta maluca? Eu não vou passar ai, nós podemos cair Morgana – Clara se recusava a passar, pois medo de altura é muito comum em qualquer pessoa, principalmente se você esta sobe ameaça de soldados.
-Clara é a nossa única saída, eles vão entrar aqui... Vamos de costas e lentamente – Estendo a mão para ela, mas ela da uma ultima olhada para a porta sendo empurrada.
O vento atrapalhava um pouco nosso equilíbrio, mas a janela não era muito longe para alcançar. Temo que não esteja vazia a sala quando entrarmos, pois não adiantaria nada todo esse sacrifício. O frio na barriga era fatal, eu não pude de deixar de olhar de canto para baixo para ver aquela multidão de carros e pessoas lá em baixo, sorte que nem estavam nos notando.
Consigo finalmente alcançar a janela, empurro a cortina e me jogo de imediato para dentro, meu cabelo se desfez novamente com a ventania. A sala estava segura nada de pessoas loucas ou soldados, era a sala de espera do consultório do dentista da empresa. A porta estava trancada, mas as chaves reserva estavam no painel da mesa da secretaria. Noto que Clara estava demorando, então corri para a janela para verificar, e encontro Clara empacada na metade do caminho com os olhos cheios de lagrimas.
-Morgana me ajuda, eu não consigo me mexer – Clara estava aos prantos chorando.
-Calma, não olha pra baixo, olha só pra mim... De um passo de cada vez que você vai conseguir – Nunca havia passado por uma situação dessas em minha vida, a única coisa a fazer era não entrar em pânico.
-Eu não consigo, eu vou cair... Tem muito vento.
-Confia em mim, eu ajudo você – Ela finalmente da o primeiro passo em minha direção, com o rosto quase colado na parede mas ela continuava, eu me assustei quando vi o salto alto que ela usava.
-Isso, ta quase chegando – Digo esticando o braço tentando alcançar sua mão.
Mas ela se precipitou, quando alcancei a mão dela, seu salto quebro e ela perde o equilíbrio e cai. Mas eu consigo segura-la a tempo de não deixá-la cair, seus cabelos voando ao vento quente que estava, e suas pernas balançando pra lá e pra cá.
-Não me deixa cair Morgana, por favor – Gritava ela, os soldados ouviriam os gritos e logo entrariam aqui. A vida dela estava em minhas mãos, e a minha também.
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